NO ALTAR

Um Haikai para
Anna e Márcio
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Que seja assim:
Nubentes tão convincentes
repetem o sim
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VIDA QUE PASSA

Minha última viagem
Foi de trem.
De costas para o maquinista.
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Olhava a paisagem
Com terrível mal-estar.
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Era como se o futuro
Passasse por mim
Sorrateiro...
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Levando para longe
Minha chance de sonhar.
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O Reprodutor

Nunca teve um vintém
Pra que?
Vivia da reputação.
As mulheres vinham a ele
De um jeito ou de outro.
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Será que amou alguém?
Ninguém saberá.
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E hoje,Deitado no caixão,
Esboça um sorriso...
De mármore.
Como aquela máscara
De teatro.
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Este sim,
Foi um tremendo gozador.
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O Descrente

Não creio na verdade
E duvido até da minha.
Ah! Fraudulentas relações
Por que sangrar o meu peito?

Não creio no tempo
No ontem... No amanhã.
Desconfio até do hoje
E da minha mente sã.

Não creio na beata
E nem na prostituta.
A primeira almeja o céu.
E a segunda o $eu.

Não creio na paz
E na guerra também não.
Pois, a paz nunca existe
Sem os tiros do canhão.

Não creio no governo
E no explorador da fé.
Enquanto um saqueia o povo
O outro sacramenta.

Não creio em parentes
Amigos ou família.
Mas, eu tenho tudo isso
Quando abraço minha filha.

A PAZ POSSÍVEL

Enfim, a estupidez do homem prevaleceu, e hoje vivemos em paz. Vejam o resultado: a fome foi derrotada; não existem mais gatunos; a quietude é eterna; a TV já não idiotiza; os fãs de Elis, Beatles, Bach e Jobim, se livram do lixo musical; os políticos apodrecem na fossa da mentira; na América do Norte, o irmão de Hitler cai do trono; o casamento deixa de ser uma profissão; o patriotismo, já não é mais o refúgio dos calhordas democráticos ou ditadores sanguinários; a indústria da fé ----- poderosa e arrogante ----- espera o julgamento; alguns parlamentos deixam de ser o manto que protege assassinos e ladrões; o banqueiro bilionário, o povo indolente e o bêbado mendigo, agora tem a mesma sina.
Até a maldita ambição humana - que devasta o meio ambiente – chega ao fim. E deixa como legado, o Brasil, um pedaço de pau descolorido.
Alguém soube disso? Alguém viu? Pois sim!
Agora a última notícia: “ONTEM ACABOU O MUNDO...”.
Um pouco antes da tragédia, foi elaborado este chip, destinado a vocês, viajantes do espaço.
Oxalá! Consigam decifrar nossa língua. Assim, saberão como esses terráqueos imbecis destruíram um planeta tão lindo.
“Atenção: esta é uma gravação. Enfim, a estupidez do homem...”.

Sublime Loucura

Vejo tudo e a todos
Do meu jeito mundano
E fujo da razão.

Empresto a alma do poeta
Que não sou.
Pra louvar e profanar.

Sem o juízo do intelecto
A lucidez dorme num caixão
Serena e fiel.

Como o cãozinho abandonado
Que viu em mim, o dono seu.
Coitadinho!

Não sabe que sou louco
E que nem latir eu sei.
Mas se quiser, serei seu irmão.

Versos Bobos

Este poema que é só meu
Não tem pé e nem cabeça
Ah! Monstrinho pigmeu
Cresça logo e apareça.

Filho bastardo do alfabeto
E da minha insanidade
Vá em busca de afeto
Para a sua orfandade.

Tem sempre alguém que gosta
Do simples e informal.
Nem por isso se aposta
No lixo cultural.

Se tá todo mundo louco?
Bem... Parece-me que sim
Assista só um pouco
Os programas da plim-plim.

Sendo amante da loucura
Foi difícil ser gentil.
Só um poeta são, cura
Meu coraçao sem til.